7 de abril de 2017

Uma linda entrevista

Por Bárbara Souza *
barbarasouza.bahia@gmail.com

Colaboraram: Maria Ísis e Renata Drews

Melhor ceder logo, desde o título, à tentação do trocadilho com o nome da entrevistada. Não por comodidade, mas por sabedoria poética e deferência a Drummond. ‘Lutar com palavras é a luta mais vã’. Rendemo-nos ao lirismo para reverenciar nossa homenageada neste 7 de abril, Dia do Jornalista. A ideia da entrevista nasceu quase como uma brincadeira, um desafio profissional de fazer perguntas originais em forma e conteúdo. A editora-chefe do jornal Correio a piauiense Linda Bezerra fala ‘de um tudo’. De como seus sentidos apreendem Salvador, às suas memórias afetivas e olfativas do seu primeiro carnaval na cidade. Dos ingredientes do bom jornalismo ao único motivo que lhe faria raspar sua longa, famosa e indefectível cabeleira. No bate-papo meio psicanalítico e completamente despretensioso que tivemos durante mais de uma hora na Redação do Correio, Linda falou sobre vida, morte, loucura, amor, jornalismo, música, viagens. Escalou até os craques que comporiam sua Seleção Brasileira de futebol. Mais: revelou o que quer fazer depois de se aposentar: quer viajar pelo mundo em busca de lugares e pessoas que mantêm preservada uma originalidade ancestral. “Gostaria de registrar homens, seres humanos virgens, no sentido de serem verdadeiramente espontâneos”.  Como diria uma certa jornalista com nome de sambista: “Genial”. Com vocês, Linda Bezerra da Silva. 


                                                                                           Fotos: Maria Ísis

Você é do Piauí, mora há anos em Salvador, sempre fala sobre seu amor pela capital baiana.  Eu queria pedir que você descrevesse esse amor a partir do que seus sentidos mais amam: ou seja, qual o sabor de Salvador que você mais ama? Qual é o cheiro, a imagem, a textura e os sons que são parte desse amor pela cidade?

Linda Bezerra: Eu gosto tanto de Salvador que até – vou ser bem exagerada – que até no xixi de Salvador há em mim uma memória afetiva. Por exemplo, quando eu cheguei aqui, passei uns cinco dias no carnaval de Salvador. Eu não ia pra casa. Passei os cinco dias entre o Campo Grande e a (praça) Castro Alves. E eu me lembro até hoje daquele cheiro de xixi do carnaval. Não é que eu esteja celebrando o xixi, o descuido de Salvador de fazer xixi na rua. Não é isso. O que eu estou dizendo é: essa cidade, esse xixi que maltrata Salvador é também um aspecto da cidade. Porque Salvador ela tem uma beleza natural e ela recebe essa atenção e esse cuidado do seu povo, e esse descuidado também. Salvador é um cheiro de xixi. Salvador tem um povo...acho que o sentido que mais me fascina é o meu olhar...é o meu olhar.  Porque eu acho que Salvador sem esse povo que habita em Salvador não seria a mesma cidade. Eu fiquei muito feliz com o resultado da Copa do Mundo (em 2014), da impressão que os turistas tiveram de Salvador na Copa do Mundo. Ninguém falou de pontos turísticos. O que encantou a ‘turistada’ que esteve aqui foi o povo de Salvador! De fato, me encanta ir para uma festa de largo. Mas não é o pagode, não é nem a procissão, mas é quem faz a procissão. É o povo de Salvador que me encanta. Eu acho inclusive que esse povo está um pouco desaparecendo. Se você for no shopping, você vê um mooonte de gente vestida igual, um mooonte de gente parecidinha assim. Então, você vai na Feira de São Joaquim, você ainda encontra esse povo; você vai na Sete Portas, você ainda encontra esse povo; na Barroquinha, na Piedade, você encontra esse povo,  sabe? Acho que o sentido mais me aguça Salvador é o olhar, mas eu amo Salvador em todos os aspectos: o cheiro, as cores...Eu acho que de fato, a melhor forma de apreender Salvador é aguçando os sentidos: o olfato, o olhar, o tato, sabe? Salvador tem uma textura, tem um som, tem um jeito...(pausa). Por exemplo, eu fui a pouquíssimos lugares no mundo. Um deles,por exemplo, foi Paris. Aí, o povo falava “ah, a cidade luz, não-sei-o-que,  nãnãnã”. Mas quando eu cheguei lá, o que mais me encantou...claro que a história da cidade é maravilhosa e tal. Mas havia uma aura, uma alma na cidade, uma coisa mais imaterial, que não está no livro. Como é espiritual, eu acho que a língua não traduz. É mais um sentimento. Eu acho que aqui em Salvador, essa coisa imaterial o povo traduz com seu jeito.

Você veio pra cá com quantos anos?

Linda Bezerra: Pra Salvador, eu vim em 88. Pra a Bahia, eu vim em 81. Eu tinha 16 anos e eu fiquei em Barreiras, que é Oeste, é outra coisa. Não é Recôncavo, não é Salvador.

Então, quando você tinha 20 anos, já estava em Salvador?

Linda Bezerra: Não, eu vim para cá com 23 anos. Agora eu estou com 51.

Tem um livro de João Falcão, “A dona da história”, que virou filme e peça de teatro, e que é um encontro inusitado entre uma mulher de seus 50 anos com a versão dela aos 20 anos. Se você tivesse a chance de conversar com a Linda Bezerra de 20 anos, você daria algum conselho especial a ela? E mais: tem algum ímpeto, alguma coisa que vicejava naquela época e que você gostaria de resgatar?

Linda Bezerra: Eu diria a ela: viaje pelo mundo e descubra sons, sabores. Eu volto à questão dos sentidos...eu acho que você foi muito feliz com a pergunta dos sentidos. Eu acho que o ser humano não pode abrir mão dos sentidos, em todos os aspectos: do olhar, do toque, do olfato, do paladar. Acho que a gente precisa apreender o mundo pelos sentidos e por outros, porque há. O sentido do sentir, de sentir pela alma, de uma sensibilidade que é intangível. E eu dou esse conselho para a (Linda) de 51 anos também. E vou dar para a de 56 e para a de 60! Certamente, é preciso viajar pelo mundo! Eu tive contato com um alto executivo da Agenda Bahia e ele citou uma coisa...que se derem para um americano duas horas para ele almoçar, ele vai se sentir ofendido. Porque o americano é movimento, ele inventou o drive-thru. Agora, se você tirar as duas horas do francês, para ele almoçar e degustar o vinho, e degustar a comida, você mata o francês.  Eu realmente diria para a menina de vinte anos: ande! E conheça o homem. Eu sou encantada pela Humanidade!

Você vai fazer isso?

Linda Bezerra: Eu tenho um projeto pessoal de registrar, assim como fez o maravilhoso fotógrafo Sebastião Salgado, o mundo original. Ele fez acho que é “a origem” o nome do livro, enfim, mas é um livro que registrou os lugares que ainda estão quase virgens, a natureza virgem. Eu gostaria de registrar homens, seres humanos virgens, no sentido de ser verdadeiramente espontâneos, de ser ele mesmo. É claro que todo mundo de alguma forma se transforma, é pautado. Mas em alguns ainda resta um jeito que ainda não foi muito burilado. Eu queria viajar pelo mundo atrás dessas pessoas que ainda guardam um jeito particular de ser. Pessoas que guardam uma particularidade que possa contar: olha, um dia a humanidade foi assim. Veja e eu não estou lamentando que estamos mudando. Não! Eu queria era guardar essa humanidade, registrar essa humanidade. A humanidade tinha algo assim. Eu gosto tanto do ser humano que talvez um dia esse resgate, esse registro fosse útil para mostrar “olha a humanidade já foi assim”. É um projeto pessoal daqueles que pode não ser realizado, mas o fato de eu pensar nele já me alimenta bastante

Se você tivesse a oportunidade de entrevistar sentimentos e fatos da vida, por exemplo, qual desses três personagens você escolheria para fazer um perfil: o amor, a morte ou a loucura?

Linda Bezerra: Puta que pariu! Eu amaria fazer dos três! A morte é uma das coisas que mais me impressionam na vida. O amor, o amor...o amor é o amor, é o que move tudo. A loucura me impressiona porque é um lugar onde nós não chegamos, eu digo: nós, aqui. Ficando no lugar de lúcidos...porque isso é uma maluquice. Porque é uma questão de lugares. Porque eu –digo eu, a Humanidade – estou nesse lugar que dizem ser o da lucidez e fulano está no lugar da loucura. Mas, para eu não dar uma de libriana indecisa, eu escolho a morte. Acho que verdadeiramente a morte é a única certeza que o homem tem na vida. A loucura não tem certeza, o amor não tem certeza.

A morte é de Exatas, né?...

Linda Bezerra: Isso! A morte é de Exatas. A sorte, talvez, de quem reflete sobre a morte é não saber o dia que vai morrer. Esses dias eu tive um diálogo com meu neto, Caio, que me disse: “minha avó, você gostaria de saber o dia que vai morrer?”. E eu disse: e você? Eu tive que devolver a pergunta...ia responder pra quê?...(risos) Ele disse: “eu gostaria porque se eu souber que vou morrer, até lá eu decido o que eu quero fazer”. Eu não sei se eu quero saber. Eu não sei...Nesse momento, eu não quero saber. Definitivamente, não quero. A morte é, de fato, o personagem que eu escolho para fazer o perfil. E eu ia dizer para ela: que sacana que você é, que escrota! Eu me debato com amigos queridos que já superaram essa discussão, que já estão na quinta dimensão, já estão nos universos paralelos. Eu realmente sou muito, mas muito, muito, muito pequena nesse assunto. Acho uma escrotidão que a humanidade tenha que se deparar com esse paradoxo vida- morte, com esse racha, sabe? Eu ia entrevistar ela: “que porra é essa, velho?” Porque quem é que tem o poder? Quem tem a última palavra?  É a morte. Tem uma música  de Gilberto Gil nesse último show, nessa turnê com Caetano Veloso, que é simplesmente genial. Eu acho que Gil fez aquilo para dar uma resposta já a si mesmo. Pouca gente ouviu a música. A música é terrível. Ele diz o seguinte: “eu não tenho medo da morte, eu tenho medo de morrer”. Ele tem medo da passagem. Porque, depois da passagem, já foi. Eu gostaria de mostrar para vocês (começa a buscar no celular). Não pode passar despercebida.


Não ouvi ainda...

Linda Bezerra: Vocês vão ter que ouvir. Vocês provocaram, agora vão ouvir! (risos)

Se fôssemos pautar matérias de jornalismo de dados biográficos, digamos, as estatísticas ‘dos amores de Linda Bezerra’ renderiam uma boa série de reportagens? Se a gente fosse fazer pautas sobre ‘os amores de Linda Bezerra’, daria uma série de reportagens, uma matéria ou só uma notinha?

Linda Bezerra: Renderia livros, compêndios! Até porque eu não estou enquadrando amores, apenas amores...Eu sou uma pessoa que ama. Eu tenho amigos queridos. Como a minha família biológica foi um processo, é um processo, então ao longo da vida, e nos lugares que estive, fui juntando amores. Eu considero você (Bárbara) um amor. Eu considero Maria (Ísis) um amor. Renatinha (Renata Drews) ainda tá...(risos)

Um amorzinho?... (risos)

Linda Bezerra: Um amorzinho. (risos) Então, eu fui reunindo amores por onde eu passei. Eu já me desliguei dessa coisa do tempo. Ah, mas a gente só se encontra no trabalho? Foda-se, sabe? Acho que com o tempo escasso, com todas as atividades que nós temos, e tempos, e amores, e atenções, a gente não consegue fazer esses encontros sistemáticos. Não acho que amor é só presença. Amor é sentimento. Eu calculo o amor pelo que eu sinto pelas pessoas. E veja, veja (enfática): o cálculo da profundidade sai de mim. Às vezes, eu mantenho amor por pessoas que eu nem sei se me amam. Nem sei se me amam! Mas, enfim, de fato o amor tem que ser alimentado, essa coisa toda.  Quem ouviu Jane e Erondi, “o amor tem que ser alimentado em pequenas coisas e nós já não temos” (gargalhada).  Mas, eu necessariamente não preciso que seja essa via dupla, igual. Tanto que meus casamentos, de dividir casa, escovas, cama, eu só saí quando eu quis sair. Eu fiquei dois anos percebendo que o sentimento do lado de lá já não era o mesmo, mas eu continuei. Eu queria, digamos assim, gastar em mim para sair com menos bagagem. Eu sou amiga de todos os meus relacionamentos. Os que não querem ser meus amigos, paciência. Você pode deixar de dividir cama, mas não deixa de amar assim a pessoa. 

Eu me arvoraria a dizer que dois dos seus amores são a gastronomia e o jornalismo. Quero fazer uma mistura das duas coisas: qual seria o cardápio de um bom banquete jornalístico?

 Linda Bezerra: Seria ter informações importantes para as pessoas, sempre. O melhor banquete é aquele que é servido para o leitor. O banquete jornalístico tem que ser servido para o leitor. O jornalista é um serviçal do leitor. Partindo dessa premissa básica e primordial: é preciso se colocar no lugar do leitor para saber o que ele quer. O jornalista, para servir um bom banquete, ele precisa ser um bom leitor antes. Sendo um bom leitor, o jornalista saberá o que quer comer e, portanto, saberá o que servir para o leitor.

Ele vai saber do que o leitor tem fome...

Linda Bezerra: Exatamente. Do que eu, como leitora, tenho fome? No meu banquete teria: informações importantes, relevantes para as pessoas, mas principalmente teria histórias que não são devidamente contadas, e bem contadas. Eu acho que o jornalista está perdendo a capacidade de se debruçar sobre histórias únicas, histórias particulares. Porque, veja, não é só o aumento do salário mínimo que transforma a vida das pessoas. O banquete do jornalista é que ele traga histórias que transformem, que operem transformações na vida das pessoas, que te toque, te faça refletir sobre o mundo.



O fato de que a revelação feita recentemente (a entrevista foi feita em novembro de 2016) pela jornalista Fernanda Gentil sobre estar namorando uma mulher virar notícia e ter tido tanta repercussão na mídia contribui para o avanço do respeito à diversidade ou revela o quanto ainda estamos atrasados nesse aspecto?

Linda Bezerra: Eu acho que revela as duas coisas. Acho que revela que ainda precisamos que pessoas deem esse tipo de depoimento porque chamam atenção, tiram da pauta do assombro determinados assuntos, portanto, revela atraso. Poderia ser algo muito mais natural. Eu não vejo nenhum problema que as pessoas falem sobre sua vida pessoal, desde que elas decidam fazer isso. Não acho que as pessoas são obrigadas a falar de sua vida particular, que é uma questão de foro íntimo. Cada personalidade deve decidir o que falar sobre sua vida. Isso é uma coisa que tem que ser respeitada! Se Fernanda Gentil, ok para ela, é uma decisão dela. Agora, se eu decidir não falar da minha vida, é uma decisão minha. Acho que uma lei básica para a humanidade é: o indivíduo tem que ter a supremacia sobre suas decisões, sobre seus atos, seus afazeres. Claro: desde que não vá ferir o outro. Porque aí já sai do individual. Eu acho, e acho mesmo – não estou fazendo um discurso – que se o indivíduo fizesse suas mudanças individuais, a humanidade seria melhor. Porque reflete no coletivo que você, no individual, que você tome suas decisões e que não resvale no outro, não interfira na vida do outro. Se eu separasse meu lixo, isso refletiria no coletivo, sabe? Eu não acredito em mudança que não parta da pessoa. Eu não acredito que prefeitura mude, que governo mude, eu acho que o indivíduo é que tem que ser transformado. Agora, quando é que prefeitura muda, que governo muda? É quando proporciona as ferramentas para eu mudar: educação, saúde etc.

Por falar em coletivo, você conseguiria escalar 11 jogadores para uma Seleção Brasileira, pode ser atemporal, com os nomes que vierem à sua mente?

Linda Bezerra: Não consigo, não, porque sou uma pessoa que não lembro nomes. Mas eu conseguiria listar nomes que eu colocaria na minha seleção. Eu colocaria Pelé, embora seja uma figura muito desconectada, né? Pelé me irrita um pouco porque ele é desconectado de onde ele veio. Eu não gosto que as pessoas se desliguem do seu ambiente social. Acho isso um defeito humano. Mas, tecnicamente falando, eu colocaria Pelé. Eu colocaria Neymar, sim! Certamente, eu colocaria Neymar. O melhor de todos, o que se casou com Elza Soares: Garrincha. Se eu te listar aqui cinco e faltarem seis nomes, eu colocaria seis garrinchas. Eu prefiro uma Seleção que jogue artisticamente. Não nego a tecnologia, mas eu gostaria que essa seleção tivesse graça no jogar, a perna que rouba a bola, sabe? Não é saudosismo, é a graça. Eu colocaria esse menino novo, Gabriel Jesus. Goleiro seria Taffarel, eu tenho uma memória afetiva de Taffarel. O resto eu completaria com Garrinchas.

A gente que convive um pouco com você percebe que seu cabelo é sempre muito bem cuidado, cheio de viço, cheiroso, o que deve dar muito trabalho...

Linda Bezerra: Muuuuito, muitíssimo trabalho! (risos)


Pois é...(risos) Isso nos leva a imaginar todos os cuidados e o prazer que você tem em mantê-los. Seu cabelo comprido e grisalho é uma marca forte da sua imagem e personalidade. Se você fosse fazer uma promessa para alcançar uma graça, que tipo de graça faria você prometer raspar o cabelo ou cortar bem curtinho?

Linda Bezerra: Que uma pessoa da minha família, que tem disfunção emocional, ficasse boa. Esse é um sacrifício que eu faria por esse motivo. (Com a voz embargada) Por nenhum outro. O cabelo pra mim é uma identidade. E uma identidade voltada para uma originalidade que eu persigo. E para uma liberdade de expressão que eu persigo. E eu estou falando de uma liberdade de expressão...essa liberdade que se diminui ao  que você trabalha numa empresa que o dono é político. Acho isso é uma ‘bobageira’.  Vocês conhecem minha opinião sobre isso. Isso é trabalho. Estou falando individualmente da liberdade de querer ser o que se é, de querer ser ou de querer chegar  no que se quer ser. Então, o cabelo representa...não pintar o cabelo: isso é uma decisão dos 12 anos, eu tenho uma mecha branca no cabelo desde os meus 12 anos. Não pintar o cabelo não é simplesmente uma rebeldia contra a indústria da tintura, não é nada disso! É simplesmente uma tentativa uma busca de ser o que se é. De tentar ser espontânea, ser original, ser eu mesma. De tentar me livrar de máscaras. Vai dizer que eu não tenho? Tenho milhares de máscaras. Mas derrubá-las é melhor para mim. Outra coisa: eu sou uma pessoa pragmática, uma pessoa prática. Por exemplo: eu amo batom, eu amo pintar a unha. Mas quem é que me vê de unha pintada e batom? Porque é preciso um ritual. Não é que eu não goste de ritual. Adoro rituais. Mas tem alguns que eu acho que me levam tempo demais. Eu, inclusive, durmo muito pouco. Durmo cinco horas. Porque acho que dormir é perda de tempo. Mesmo. Sinceramente. Aí eu sei que estou perdendo tempo porque quem dorme pouco vai morrer mais rápido, mas vou morrer de qualquer jeito. Mas acho mesmo que às vezes você perde tempo com coisas que só vão lhe atrapalhar. Imagine toda semana pintar o cabelo porque apareceu um fio branco. Estou falando do ponto de vista prático. Acho que você assume a sua personalidade, você fica bonita. Descobri isso também. A beleza passa por isso. Eu me acho bonita, acho mesmo. Óbvio que se eu me olhar no espelho e começar a procurar as imperfeições e tal. Mas de fato eu me acho bonita, me acho bonita mesmo. Eu não estou falando de padrão de beleza, da miss, das Giseles. Estou falando de uma beleza que eu sinto, é um sentimento. Agora, me cuido para que esse sentimento não vire uma firula, me cuido, tento me cuidar e tal. Mas de fato, eu quero..que saia pelos meus poros..eu mesma.  Acho que é identidade, é beleza, é originalidade ser eu mesma. Tanto que eu poderia ter passado um batom para essa porra dessa entrevista (risos), mas nem me lembrei disso, sabe?  

Você tem um lado, assim, Lulu Santos, você vê a vida melhor no futuro?

Linda Bezerra: Puta-merda, eu tenho! Às vezes, isso é tão ruim. Eu preciso viver mais no presente. Eu preciso viver realmente (!) mais no presente. Eu sempre acho que vou andar por aí, aguçar mais meus sentidos, quando eu me aposentar (Nota: Linda concedeu a entrevista em novembro de 2016). Mas, poxa, sejamos realistas, né? Falamos da morte...O que é mais presente? É a morte. A morte é mais presente que a vida.

A sua fé te ajuda a se preparar para esse “morrer” que Gilberto Gil falou, na música?

Linda Bezerra: Eu tenho, mas ainda não encontrei a faceta da fé que vai me ajudar nisso.

Qual foi a faceta da fé que você encontrou?

Linda Bezerra: Para viver! Porque viver é tão difícil quanto morrer! Não se engane, não. Viver é muito difícil, é muito difícil. Eu olho para as pessoas que têm depressão e não conseguem se levantar da cama. Você acha que não tem dias que a gente e não tem vontade nenhuma de levantar da cama? Viver é muito difícil. A minha fé me ajuda a viver. A morrer não está ajudando ainda. Eu já fui no espiritismo. Eu bebo vegetal. Já me estirada, já me vi velhiiinha no vegetal. Aquela visão poderia, sim, me ajudar a dizer “poxa, você vai viver pra caramba”. Eu gosto de viver, eu gosto do mundo, eu adoro as pessoas, eu amo o que o ser humano criou. Se eu pudesse escolher, eu queria ser Renascentista. Eu queria ser (Leonardo) Da Vinci. Linda, você quer ser quem? Eu quero ser Da Vinci. Eu quero ser alguém que tem conhecimento. Não o conhecimento desse mundo, do que as pessoas criaram. Por isso que eu não tenho preconceito com as redes sociais. Eu não vou discutir com os robôs que vão surgir depois de nós. De jeito nenhum. Certamente eu vou achar graça e beleza, se eu aqui estiver. Eu não sou uma pessoa que lamenta, que gosta de ficar lamentando as perdas. Uma vez eu escrevi um artigo sobre o número daquela comida japonesa que parece um cone que virou moda aqui. Temaki. Eu escrevi que era capaz de eu encontrar dez temakerias no Rio Vermelho e dois acarajés. Mas eu não tava lamentando a chegada da temakeria. Eu tava lamentando era o sumiço do acarajé!

Está vendo aí? Nem doeu?...

Linda Bezerra: Eu espero que não tenha doído para vocês. Agora, espera aí que eu vou procurar a música de Gil pelo Youtube, porque eu não sou Alice. Porque vocês vão ouvir! (risos) . 

* Bárbara Souza é jornalista e coordenadora do curso de Jornalismo da Faculdade Social da Bahia (FSBA)

19 de setembro de 2016

Programa A Parada é Arte

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Nesta edição, o programa fala sobre as exposições Jardins Urbanos e Poteiro Pop, além do espetáculo O Corrupto.



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