12 de fevereiro de 2012

Minorias nas HQs: representações étnicas e de gays nos quadrinhos

Superman, criado em 1938, foi o primeiro personagem de HQ a fazer sucesso nos EUA

[A reprodução deste texto por outros veículos é permitida, desde que haja a inclusão do crédito de fonte: Elson Bruno Aguiar/ABAN]

Por Elson Bruno S. Aguiar


Foi no final da década de 30 do século passado, com a criação do personagem Superman, que os quadrinhos de super-heróis ganharam destaque nos Estados Unidos, pós-recessão, como válvula de escape para os problemas decorrentes da quebra da bolsa de Nova York. Assim como qualquer gênero da cultura pop, os quadrinhos carregam os valores da época em que são criados e, desse modo, era comum a representação de uma superioridade do homem branco e heterossexual frente ao resto da população.

Desde a criação do Superman, até o final da Segunda Guerra Mundial, já existam cerca de 400 personagens tidos como super-heróis e dentre eles, Pantera Negra, de 1965, e Falcão (parceiro do Capitão América) de 1969 estavam entre os protagonistas das histórias. Mas foi com Luke Cage, de 1972, que o negro passou a ter uma abordagem mais próxima à realidade.

Pantera Negra em HQ atual. Foto: Divulgação/Marvel Comics
Fruto dos movimentos sociais como os Panteras Negras e do estilo Black Power, a criação de Luke Cage está ligada à integração do negro na sociedade americana. Herói do Harlem, que por vezes priorizava o bem sua comunidade ao planeta, Luke Cage serviu para redefinir a abordagem dessa minoria dentro das publicações. 


Ainda que hoje grande parte dos heróis negros dentro dos quadrinhos exista para “preencher cotas”, é sabido que têm surgido personagens originais com autores preocupados em escrever negros que pareçam negros e estejam contextualizados na sociedade e não se tornem apenas estereótipos.



Na década de 80, foi mostrada a tentativa de incluir outro grupo minoritário nas HQs, os homossexuais. De início, em parte por medo da aceitação do público, os personagens homossexuais apresentados não eram deliberadamente assumidos e deixava-se subentendido a orientação sexual deles, como é o caso do personagem Estrela Polar (integrante do grupo mutante de heróis X-Men).


O mutante Estrela Polar, que integra  a lista dos heróis X-Men
O personagem Estrño apresentado pela DC Comics no final de 80, início da década de 90 foi uma tentativa frustrada de retratar os homossexuais. Extremamente caricato, com trejeitos exagerados, uniforme extravagante e soropositivo, ele parecia mais uma piada depreciativa que uma representação do grupo.


Foi apenas em 2009 que o homossexualismo passou a ser representado de forma mais aberta nas publicações, após o beijo gay entre os personagens Rictor e Shatterstar na revista X-Fator #45 da Marvel Comics (foto abaixo), apesar de personagens já consagrados como Mística, Batwoman, dentre outros possuírem essa orientação sexual.


Foto: reprodução
Dentro dos quadrinhos, os X-Men, criação de Stan Lee e Jack Kirby em 1963, são os que melhor representem a situação das minorias étnicas perante a sociedade. Os X-Men são um grupo de mutantes (seres humanos evoluídos e dotados de super-poderes), segregados e discriminados por esta condição, uma metáfora representativa de grupos como os afro-americanos, homossexuais e judeus.

Primeiramente a metáfora pode ser construída em torno do preconceito racial relacionando dois dos principais personagens da franquia, o Professor X e Magneto, à Martin Luther King e a Macolm X, respectivamente. Um é pacifista e luta pelos direitos civis dos mutantes, enquanto o outro é um militante mais agressivo. 
Magneto personagem judeu que sobreviveu ao Holocausto
Outra interpretação que pode ser dada é pelo fato do medo quase sempre presente nos mutantes em expor sua condição à sociedade, muitas vezes escondendo por anos a situação, alusão ao modo como os homossexuais são tratados. O personagem Magneto, um judeu sobrevivente do Holocausto, representa mais uma interpretação possível, com seus ideais em estabelecer uma nação mutante e o combate constante à Ilha de Genosha (um local para onde os mutantes são mandados para exercer trabalho escravo e servir de cobaias cientificas) referência aos campos de concentração nazista.

Nas histórias de Grant Morrison à frente dos X-Men, é também possível identificar a existência de uma sub-cultura mutante, com bandas, moda e bairros inteiramente direcionados a essas pessoas, mostrando o cuidado que o autor tem em representar como as minorias possuem suas características culturais e com a auto-afirmação está cada vez mais presente na sociedade.

Porém, dentre as tentativas de afirmar as minorias, a Marvel Comics revolucionou pode-se assim dizer. Mesmo com personagens não caucasianos em destaque e bem representados, a Marvel, em sua linha Ultimate (uma espécie de reformulação do universo dos heróis, acontecida em 2000 e com publicações em paralelo com o universo original) tomou uma atitude ousada e inovadora. O Homem-Aranha, um dos heróis mais conhecidos em todo o plante e tradicionalmente tendo como alter ego Peter Parker, um jovem branco e morador do Queens, foi substituído por Miles Morales, garoto negro e latino.


Foto: reprodução
Ainda mantendo a essência do personagem Homem-Aranha, a parte que trata do alter ego do herói consegue retratar de maneira coerente e crível a situação de um garoto de descendência afro-espânica e morador do Harlem. Um exemplo disso é quando, logo na primeira edição, Miles precisa encarar o drama de participar de um sorteio para consegui uma vaga em uma escola pública.

Mas, mesmo com o tratamento demonstrado por alguns dos autores e roteiristas, ainda é possível ver a falta de cuidados que outros possuem na hora de retratar a realidade da auto-afirmação. Um exemplo disso é a história em que Tempestade e Pantera Negra (ambos heróis negros) , após casarem, realizam um tour por todo os Estados Unidos, em busca de heróis negros, para criar uma nação.


Casamento entre Tempestade Pantera Negra, ambos de origem africana
A partir da análise da conjuntura atual dos quadrinhos, é possível perceber que há sim um cuidado real em aproximar mais este universo da ideia de que as minorias estão presentes e desejam ser representadas nas produções culturais, e de que como no exemplo do Homem-Aranha Ultimate o cuidado na hora de retratar a realidade das minorias está sendo presente. E não apenas isso, mas a aceitação destes personagens está cada vez mais consistente, vide o Lanterna Verde John Stewart, que após a popularização nas animações da Liga da Justiça, foi o preferido do público para representar o herói no filme do Lanterna Verde, à frente do caucasiano Hal Jordan, que acabou sendo a escolha de Hollywood.


Fontes consultadas pelo autor:


The DC Comics Encyclopedia: The Definitive Guide to the Characters of the DC Universe

Enciclopédia Marvel Comics – Editora Marvel



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