26 de agosto de 2016

Medalhas com gosto de dendê!

Texto: Filipe Alcantara

Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro foram um sucesso! A despeito de todo o pessimismo que rondava o evento nos meses que o precederam, tudo ocorreu sem nenhuma grande anormalidade, tanto fora quanto dentro dos ginásios e arenas esportivas. Porém, o receio de que as coisas não dessem certo era justificado. O país está mergulhado em uma crise política e econômica. Além disso, havia entre os possíveis viajantes o medo da violência urbana, do terrorismo, do vírus zika e até a poluição na Baía da Guanabara colocou em dúvida se a capital fluminense poderia ser sede do maior espetáculo do planeta.

Agora, passados alguns dias da Cerimônia de Encerramento, podemos afirmar que as primeiras Olímpiadas da América do Sul atingiram seu objetivo. Apesar da morte de um agente da Força Nacional que entrou em uma favela sem querer, dos casos de roubo inclusive dentro da Vila Olímpica, e da piscina em que a água de um dia para o outro ficou verde, os resultados esportivos, com a quebra de 19 recordes mundiais, comprovaram que os jogos do Rio entraram para a história. Os atletas brasileiros que o digam: terminamos em 13º no quadro de medalhas (a nossa melhor posição já alcançada), com 7 medalhas de ouro (nosso recorde em uma só edição, superando as 5 medalhas douradas em Atenas 2004), e um total de 19 medalhas (também algo inédito, pois o máximo que havíamos conseguido foram 17 em Londres há 4 anos). E os baianos tiveram participações decisivas nesse grande resultado.

O boxeador Robson Conceição, 27 anos, nascido e criado no bairro de Boa Vista de São Caetano, conquistou o primeiro ouro do Brasil no boxe olímpico de forma inquestionável. A façanha foi tanta que ele desfilou em carro aberto pelas ruas de Salvador e foi recebido por uma multidão no seu bairro. A outra medalha de ouro da Bahia também é de um soteropolitano, só que em um esporte coletivo. O meio-campo Walace, 21 anos, foi titular durante toda a campanha da seleção brasileira de futebol que venceu a final no Maracanã. Jogador do Grêmio, ele passou pelas divisões de base do Bahia, mas não foi aproveitado.



Mas o grande destaque do estado nesses jogos foi o canoísta Isaquias Queiroz, 22 anos, que em sua primeira Olimpíada conseguiu 3 medalhas (duas de prata e uma de bronze), se tornando o maior medalhista olímpico do Brasil em uma só edição. Natural de Ubaitaba (quem no idioma Tupi significa Terra das Canoas), Isaquias tem tudo para superar os velejadores Robert Scheidt e Torben Grael, que possuem 5 medalhas em 6 participações cada, e virar o brasileiro com mais medalhas na história.



O quarto baiano a ganhar uma medalha no Rio foi o também canoísta Erlon Silva, 25 anos, que conquistou a prata junto com Isaquias na canoa dupla - 1000 metros. Nascido em Ubatã, ele já havia participado dos jogos de Londres em 2012, quando ficou longe do pódio. 

Poderia ter sido ainda melhor...

Mesmo com esse bom resultado, a Bahia tinha potencial para conquistar mais medalhas. Na maratona aquática tanto Ana Marcela Cunha, 24 anos, quanto Allan do Carmo, 27 anos, ambos nascidos em Salvador, eram favoritos à medalha. Porém, os nadadores não foram bem nas águas do Rio e terminaram em 10º e 17º lugar, respectivamente. A Ana, inclusive, é bicampeã mundial na categoria. Fica agora a esperança que em Tóquio eles consigam o tão sonhado pódio.

O mesmo não pode ser dito para a jogadora de futebol Formiga, 38 anos, que é a única atleta do futebol a participar de 6 Olimpíadas. Depois de bater na trave em 2004 e 2008 ao ficar com a prata, a seleção feminina tinha o apoio da torcida para conquistar o ouro inédito. Porém, foram eliminadas nas semifinais pela Suécia, e na disputa pelo bronze ainda perderam para o Canadá. Infelizmente esta deve ter sido a última chance da Miraildes (nome verdadeiro da Formiga) vencer o torneio olímpico. Mas a falta da medalha dourada não diminui em nada a carreira vitoriosa e longeva dessa grande soteropolitana.



Outra natural de Salvador que tinha expectativa de ganhar medalha era a boxeadora Adriana Araújo, 34 anos, que já tem uma de bronze no currículo, conquistada há 4 anos. Mas ao perder e ser eliminada em sua primeira luta nos jogos, ela ficou longe de repetir o feito de Londres.

No dia 24 de julho de 2020 terão início os Jogos Olímpicos de Tóquio. Tomara que a mistura “sushi com dendê” renda mais frutos para a Bahia e o Brasil. Que novos atletas surjam para nos representar e alcançar o pódio, e que os baianos medalhistas possam repetir o bom desempenho de agora na terra do sol nascente. Para isso, obviamente, é necessário investimento do poder público no desenvolvimento e treinamento dos nossos representantes pois, talento, temos de sobra. Vamos torcer!

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